Um senhor de pele enrugada e dias fartos caminhava pelo seu simples jardim quando ouviu as lágrimas de uma de suas netinhas. Ela chorava desconsoladamente, escondida atrás de algumas rosas vermelhas. O senhor a pegou no colo e a carregou até um banco.
– Que foi minha flor? Que acontece que você chora tão tristemente? – Ele enxugou as lágrimas da menina e a apertou contra o peito.
– Vovô, eu acho que o mundo está todo errado. Eu acho que Deus tinha que mudar tudo. Eu não gosto do jeito que está. – Ela tentou explicar.
– E é por isso que você chora? – E enxugou as últimas lágrimas.
A menina respirou fundo e disse: “Não”. Tomando fôlego.
– Eu choro por que eu não entendo o amor. Eu não entendo a minha mãe e o meu pai. Eles brigam o tempo todo. Se xingam, se machucam, se afastam, um faz o outro sofrer.
O senhor sentiu um peso. Uma dor no peito. Um aperto que fez o ar queimar em seus pulmões.
Suas mãos idosas e calejadas acariciaram os finos e perfumados cabelos da pequenina.
– Minha linda, minha netinha que mais parece uma delicada flor. Eu acho que a culpa é minha. Talvez eu tenha feito algo de errado. Eu acho que em algum momento eu não fui o pai que a sua mãe precisava que eu fosse. Eu devo ter falhado. Você pode me perdoar?
– Mas vovô, a mamãe já é grande e o papai também. Eles deviam saber que o amor é simples. Que o amor é dar e receber. O amor não é esperar em troca. Olha, tá vendo essa formiguinha? Olha como ela chega até a rosa. A rosa não a impede de chegar, de precisar da rosa, de amar a rosa.
O senhor observa na rosa ao seu lado a formiga que sobe pelo caule até as pétalas da flor.
– Meu amor. Olhe bem. A formiga tem que se desviar do quê?
– De nada. – Respondeu rápido a netinha.
– Tem certeza? Perguntou o velhinho.
– Dos espinhos vovô. Dos espinhos. As rosas têm espinhos. Por que as rosas têm espinhos? Perguntou confusa, a menininha.
– Tente pegar a rosa minha flor. – Indicou o senhor.
Quando a menina levou a mão a rosa o velhinho disse alto: Cuidado! Os espinhos machucam.
A menina tentou pegar de um lado, tentou pegar de outro e quando achou que podia puxar, furou o dedinho. Seu avô a consolou e chupou a ferida até o sangue parar.
– Tá doendo vovô.
– Vai passar querida. A dor vai passar.
– Vovô!! – A menina deu um pulo. Sentou rapidamente no banco saindo do colo de seu avô. – Eu tenho que avisar a mamãe e o papai dos espinhos. – E saiu correndo. Deu uns passos e voltou. – Mas vovô, o senhor me avisou dos espinhos e mesmo assim eu machuquei as minhas mãos.
– Eu acho que os seus pais sabiam dos espinhos. Mesmo sem eu ter avisado para eles.
– Foi ai que o senhor errou? Não ter mostrado os espinhos?
– Pode ser meu anjo, mas os espinhos se escondem, eles sempre estão nas rosas.
– Então não tem jeito. Meus pais sempre vão se machucar?
– Tem um jeito sim meu amor.
– Como vovô?
– Perdoar os espinhos um do outro, até que uma hora eles não doam mais.
– Huummm!!! Que estranho isso!! Que difícil!! Espinhos mágicos que se escondem. Machucam e depois não doem mais.
– É parecido com o amor.
– Mas o amor é assim tão estranho? – Perguntou sem entender a netinha.
– Depende do cravo, da rosa e do tamanho do espinho.
– Nossa! Mas talvez a mamãe e o papai não saibam disso. Vou correndo avisar.
E saiu correndo em direção à mãe e ao pai.
O velhinho olhou para as marcas nas mãos, e dessa vez era ele quem chorava.
Rêmulo Vaney Carrozzi