José que toca o céu

José estendeu a mão ao céu. Pensou que podia alcançar as nuvens. José não era louco. José sonhava que era um gigante. Engraçado era quando José fechava os olhos e suas mãos chegavam até o céu. Mas ele não via. Quando José virava um gigante, tinha medo. Era um gigante medroso. Tinha medo de machucar os pequenos, mas gostava de ser um gigante, um gigante legal. Que fazia amizades com dragões. Os dragões são legais, é só não ficar na frente deles quando eles espirram. Quando José era gigante, ele podia conversar com o vento e não gostava quando o vento ficava bravo. O vento bravo derrubava as árvores. José gostava das árvores, especialmente as que davam frutas. José adora frutas, mas só quando não é gigante, assim elas duram mais.

Mas quando José tocava o céu nunca abria os olhos, por que no momento que abria os olhos, estava de volta na terra, pequenino, frágil.

Esqueci de dizer, José é só um menino, mas não é um menino qualquer. É um menino que toca o céu.

Todos os meninos podem tocar o céu, é só saber fechar os olhos, mas fechar do jeito certo, fechar as pálpebras e abrir a alma.

Um dia, José quis ser um pássaro, desses que voam longe, bem longe, longe mesmo. Então fechou os olhos e ficou superamigo do vento. Ele só abria as asas e deixava o vento levá-lo. Eu falei que José era leve? José era uma pena, mas não tenha pena, pois o vento era muito amigo dele e cuidava dele, nada de ruim acontecia, pois José sabia fechar os olhos.

O tempo passou e José cresceu, perdeu a mania de fechar os olhos, andava muito tempo com os olhos bem abertos. E com o tempo, o dragão e o vento sentiram tremenda falta de José.

Numa noite, o vento e o dragão resolveram que iriam matar a saudade do José e foram até o sonho dele pra fazer uma visita. E José sonhou que era um gigante novamente, conversou um longo tempo com o vento, brincou de esconde-esconde com o dragão. O dragão sempre o achava, dragões têm excelente vista além de voar, é claro, mas José não se importava. Era divertido esconder-se e ter que achar um dragão. E, na hora de acordar, foi uma hora triste. Ele chorou, não queria mais ser adulto, um adulto que não sabia mais fechar os olhos. Um adulto  bem bobão.

Naquele dia, no dia do sonho, José fechou os olhos e trombou com o chefe dele, que perguntou que se ele estava passando bem. José respondeu que estava sim. E foi trabalhar, na mesa dele. José tinha uma mesa, mas era uma mesa boba, tinha só uma gaveta e nela só tinha papéis.

Um dia José achou nela o desenho de um dragão, um dragão que era carregado pelo vento. Ficou pensando: “quem será que desenhou isso?”, não lembrou de nada. Só foi lembrar quando fechou os olhos.

Ele desenhou quando sonhava.

José hoje fecha os olhos toda hora, saiu do emprego e ganha a vida desenhando dragões, o vento, as frutas, os pássaros e tudo o mais que ele vê quando fecha os olhos.

Sobre Remulo vaney Carrozzi

Meu nome é Rêmulo Vaney Carrozzi. Formado em Propaganda e Marketing, em Letras e com Pós Graduação em Literatura na PUC de São Paulo. Professor, quase escritor, leitor de tudo que aparece, cristão por fé e amor, questionador por nascimento (até mesmo dessa fé) e chato de carteirinha. Escrevo porque preciso, porque tem muitas coisas na minha cabeça e elas querem sair. My name is Rêmulo Vaney Carrozzi. Graduated in Advertising and Marketing, in Literature and with a Postgraduate Degree in Literature at PUC in São Paulo. Teacher, almost writer, reader of everything that appears, Christian by faith and love, questioner by birth (even of that faith).
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