O Baile da Graça

Otávio estava sentado no sofá se lamentando. “Por que, meu Deus, por quê?”. De cabeça baixa, enxugava algumas lágrimas. Estava na casa de uns amigos e a reunião ia começar. O interfone tocou. Era Maria. Cleuza, a dona da casa, mandou que ela subisse, deixou a porta aberta e foi para a cozinha. E o Otávio, perguntando “Por que, meu Deus, por quê?”. Maria entrou na sala, viu o Otávio e se sentou perto dele.

– Oi, me chamo Maria. E você?

– Otávio. – Disse com a voz falha, tentando esconder a tristeza e disfarçando as lágrimas.

Maria notou. Antes de se apresentarem devidamente, Cleuza chamou Maria na cozinha e cochichou algo para ela.

O interfone tocou. Era a Matilde, a Marta e o Marcos. Entraram todos. Otávio nem se levantou, cumprimentaram-se de longe.

Maria entrou na sala e colocou uma música. Um hino muito alegre. Todos começaram a dançar, exceto, claro, Otávio que, sentado, ainda se lamentava.

Matilde tinha uma cicatriz no pescoço, aproximadamente 35 pontos que ela conseguiu quando seu ex-marido tentou matá-la; mancava de uma das pernas, depois que rolou de uma escada tentando fugir do mesmo marido que era viciado e queira saber onde ela escondia o dinheiro. Matilde agora estava sozinha, mas sabia que a qualquer momento iria encontrar o grande amor da sua vida. Levantava os braços e adorava a Deus, soltando gritinhos de “Te Amo Pai! Te Amo! Te Amo!” Ela trabalhava como caixa num supermercado ali perto.

Marta tinha sido estuprada aos 12 anos por um bandido que matou seus pais bem diante de seus olhos, só para levar um colar que não valia absolutamente nada. Ficou com seu irmão numa creche do governo e lá não teve vida fácil. Apanhava todo dia e o único carinho que tinha era do irmão e da pretinha, uma cadelinha que morava com as crianças. Seu irmão se envolveu com drogas e aos 18 anos morreu baleado pela polícia. Ela ficou só nesse mundo. Era muito bonita, mas nunca havia beijado homem algum. E ela cantava alto e dava pulinhos dando glória a Deus. Erguia os braços e abraçava a Matilde e o Marcos e quem mais passasse em sua frente.

Otávio esticou o olho para seus irmãos que dançavam, mas nem levantava a cabeça.

Marcos fora dado pela mãe quando bebê, nunca conheceu seus 9 irmãos. Com 8 meses, seus pais adotivos descobriram que ele tinha uma doença incurável, rara e desconhecida. O médico explicou a doença muito pior do que ela era e seus pais adotivos o largaram numa creche por achar que ele seria quase um vegetal. Lá ficou até os treze anos, pulando de instituição em instituição até que foi adotado pelo porteiro de uma igreja e por um milagre dos céus ganhou os movimentos dos braços. Andava com dificuldade, falava todo enrolado e achava graça dele mesmo quando tentava dançar e fazer os passinhos que saíam descompassados. E ria muito enquanto Marta o ensinava a pular.

Maria observava Otávio, que chorava.

– Que foi Otávio? Por que tanto choro?

– Minha noiva me largou e roubaram meu carro.

– Nossa, “tadinho”! Mas não fica assim não. Você vai conhecer o verdadeiro amor e um carro é só um monte de lata que vale uns trocados.

– Não, eu sou um desgraçado mesmo! Só me acontece coisa ruim – Disse e deixava as lágrimas caírem.

– Otávio, você é Cristão e tem coragem de dizer isso? – Maria o olhou nos olhos, irritada, queria socá-lo até que a Graça de Jesus lhe escorresse pelos poros.

Ela contou a vida de todos que estavam ali, menos a sua própria. Otávio já estava se sentindo um idiota e piorou quando a Cleuza chegou.

– Otávio, pára com isso, você tem tudo, é um cara inteligente, apesar de, às vezes, como agora, bancar o coitadinho. A sua noiva era uma chata, nunca gostou de você. Dê graças a Deus por ela ter te largado, e se você fosse um pouco mais organizado tinha pago o seguro do carro em dia. Você sabe como foi, ou melhor, como é a vida das pessoas que estão aqui, não sabe?

– Sei, a Maria me contou. – Falou com a voz de quem acaba de levar umas palmadas.

– Pois não é nem de longe a pior. A história da Maria é de chorar de tão triste, pior do que todas as outras… E olhe para ela.

Maria dançava feliz, sorridente, dando glória a Deus e Aleluia. Otávio a olhou, olhou para a Cleuza e então chorou de verdade. Maria o olhou, foi até ele, estendeu a mão e chamou:

– Chega de choro, Otávio. Vem Louvar o Senhor Jesus.

E Otávio foi, dando Glória e Aleluias ao Senhor Nosso Deus.

Rêmulo Vaney Carrozzi

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Sobre Remulo vaney Carrozzi

Meu nome é Rêmulo Vaney Carrozzi. Formado em Propaganda e Marketing, em Letras e com Pós Graduação em Literatura na PUC de São Paulo. Professor, quase escritor, leitor de tudo que aparece, cristão por fé e amor, questionador por nascimento (até mesmo dessa fé) e chato de carteirinha. Escrevo porque preciso, porque tem muitas coisas na minha cabeça e elas querem sair. My name is Rêmulo Vaney Carrozzi. Graduated in Advertising and Marketing, in Literature and with a Postgraduate Degree in Literature at PUC in São Paulo. Teacher, almost writer, reader of everything that appears, Christian by faith and love, questioner by birth (even of that faith).
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4 respostas a O Baile da Graça

  1. Oct4viosZ diz:

    Deus lhe abeçoe, meu caro! E que você ande com ele.
    –Não pude deixar de dizer isto aqui.
    Estava fazendo uma pesquisa para uma atividade escolar, queria achar uma diálogo com uma mensagem bacana, para não traduzir diretamente dA Bíblia(oque poderia ofender alguns) e achei isto, Parabéns pela iniciativa! Não sei oque anda fazendo, ou qual seu objetivo com isto, mas digo, que bom tirar do seu tempo para tocar estas pessoas; creio que nós, os da parte de Deus somos membros de Cristo, e o sal da terra, é bom ver alguém chegando a estes lugares da literatura e poesia, se extendendo como dedo, prolongando as habilidades da mão!
    Não digo julgando se isto está bom ou mal, tem ou não tem, mas sim que, isto, toca em algo muito importante com respeito a Cristo chegando à outras pessoas, no caso, teu público parece ser de pessoas que já estão na fé, ou pelo menos na letra da fé, e dentro dele, pode ocorrer de por as vezes consomirem poucos alimentos consagrados essêncialmente à Deus, como a Bíblia que creio que é A Palavra de Deus, até por falta de afinidade com esta Santa forma de se ligar aO Conhecimento Dele, e este trabalho seu se torna uma boa forma de envolver e passar mensagens e conhecimentos Santos de uma boa forma; sem falar, das pessoas anti-Cristãs que podem ler teu texto, digo que, pessoas do mundo, tem pés do mundo, e precisam de um caminho mundano para chegar até Deus.
    Desejo boa sorte no trabalho, mas que seja feita A Vontade de Deus! Que você esteja com Ele, e Ele com você.

    • Oct4viosZ diz:

      Há bastante responsabilidade! Que Deus lhe guie e lhe tome!

    • Remulo vaney Carrozzi diz:

      Obrigado, irmão! Que Deus seja a nossa força e direção. Minha oração sempre foi de usar meu texto e este espaço para a Gloria Dele. E como sou limitado e cheio de falhas, dependo muito da graça ilimitado do Pai. Obrigado pela leitura atenta. E que Deus lhe abençoe e ilumine os seus caminhos.

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